Visita à SPCD, parte 3

Terceiro e último post sobre minha visita à São Paulo Companhia de Dança. Para ler os anteriores, aqui e aqui.

Hoje falarei sobre Tatiana Leskova, mais conhecida como Dona Tânia. Ela é a responsável pela remontagem do grand pas de deux de “O Quebra-Nozes” realizada pela companhia. A sua história, contada de maneira detalhada, pode ser lida aqui.

Francesa, de pais russos, naturalizada brasileira, ela está no país desde 1944. Quando Dona Tânia entrou na sala pouco antes do ensaio começar, confesso que me emocionei. Eu estava diante de uma bailarina que carrega consigo um capítulo importantíssimo da história da dança.

A sala estava repleta de pessoas, mas ela só tinha um foco: os bailarinos que dançariam o grand pas de deux. Mal chegou e foi direto conversar com eles para fazer algumas correções. Nos intervalos entre o adágio, as variações e a coda, ela corrigia novamente. Antes da coletiva de imprensa, ela perguntou se seria rápido, pois ainda tinha quatro horas de ensaio pela frente.

Dona Tânia fará 90 anos em dezembro. Lembrem-se disso quando começarem a reclamar, por qualquer motivo que seja, do árduo trabalho pela dança.

Durante a coletiva, ela tocou em pontos importantes sobre o ballet clássico. Não anotei as perguntas dos jornalistas, tampouco tive coragem de perguntar qualquer coisa. Eu só queria ouvi-la e aprender o que eu pudesse.

Aqui estão alguns apontamentos de Dona Tânia. Sem dúvida, alguns deles virarão longos posts mais para frente.

“A técnica é o início do ensino da dança.”

“A dança é o todo, se fosse só movimento seria ginástica. Dança é técnica e arte.”

“Tem de amar a dança para continuar na carreira.”

“Há muitos talentos no Brasil, mas não há onde trabalhar. [Os bailarinos] ou vão para fora ou desistem.”

“O grande problema nas escolas de dança é que [os alunos] aprendem [as coreografias] pelo DVD. A dança é três dimensões.”

“É preciso ter amor à dança para passar o que aprendeu.”

Por fim, sobre ser francesa-russa-brasileira, ela disse: “A minha nacionalidade é bailarina”. Nesse momento, eu soltei um “aaaah” totalmente involuntário. Como não se emocionar ao ouvir isso? Em poucos minutos, Dona Tânia me mostrou claramente por que eu me dedico ao ballet clássico e por que quero fazer isso até o fim.

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Para quem quiser saber mais, leia “Eu ensino dança”, entrevista que Dona Tânia concedeu ao idança.net, aqui.

3 comentários sobre “Visita à SPCD, parte 3

  1. Quem nunca teve que aprender uma sequencia assistindo aqueles DVDs da Royal? Sempre achei um absurdo professora que parava a aula e fazia a gente tentar aprender sequencias longas apenas vendo o DVD. Interessante ela ter levantado esse ponto, me identifiquei 🙂

  2. Que linda essa última resposta dela *-*
    E o empenho dela pela dança depois de tantos anos só prova que é sincero.
    Emocionante e inspirador. Mais uma vez: que experiência maravilhosa essa sua, ein.

    Beijos

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