Eat Right. Respect Your Body. Dance Forever.

Primeiro post de uma série de textos referentes a um assunto silencioso, que toma conta do ballet clássico: a estreita relação de amor e ódio entre bailarinas e comida.

“Isso é coisa da sua cabeça, Cássia!” Tem certeza? Pode ser você quem está lendo. Pode ser sua companheira de turma. Pode ser a primeira-bailarina de sua companhia preferida. Pode ser a finalista do festival mais respeitado do país. Nesse momento, em algum lugar, há uma bailarina com transtorno alimentar. Em algum lugar, há uma bailarina de regime. Em algum lugar, há uma professora ou um ensaiador dizendo ao corpo de baile que é preciso emagrecer. Não é engraçado imaginar que a comida, aquela que nos mantém em pé, é a nossa grande inimiga? Eis a grande vilã do ballet clássico.

Para começar, vejam a campanha “Eat Right. Respect Your Body. Dance Forever.” (Coma direito. Respeite seu corpo. Dance para sempre.), da Gaynor Minden. Exatamente, a marca inovadora de sapatilhas de ponta é a responsável por tirar esse assunto do silêncio.

Há uma seção especial no site com o intuito de conscientizar sobre a boa alimentação, alertar para os perigos dos transtornos alimentares, estimular a discussão e fornecer informações sobre o assunto. Como bem está escrito na página, “Nós não temos medo de vir a público e dizer isso”. Sim, porque o mundo do ballet clássico finge que isso não existe, mesmo quando uma bailarina passa um dia inteiro com apenas uma maçã no estômago, não importa se terá oito horas de aulas, ensaios e apresentações pela frente.

O primeiro passo é aceitar que o problema existe. A pressão por uma magreza nada saudável está em todos os cantos. Isso não se restringe ao ballet clássico profissional. Aposto que vocês já viram, ouviram ou passaram por situações em que a frase “É necessário emagrecer” esteve presente. E isso não acontece uma vez ou outra: é regra, não exceção.

Comentei em um post que, em um passado distante, eu era muito magra. Mas muito! O que eu mais queria na vida era engordar. Ganhei o corpo que sonhei, mas isso durou até eu começar a fazer ballet. Não tenho problemas com alimentação, pelo contrário, possuo um profundo amor pela comida. Mesmo assim, ganhei o hábito de me pesar duas vezes por semana. Se passei do peso considerado o meu limite, como menos. E é inconsciente, quem notou foi o meu pai que comentou comigo. Isso é apenas um breve exemplo sobre a gravidade do problema.

A semente está lançada. Falarei sobre esse assunto ao longo do ano, sob diversos aspectos. Todos os posts estarão reunidos com a tag “ballet e alimentação”. E se você é uma bailarina ou um bailarino que está sofrendo com isso, fiquem tranquilos. Vamos nos ajudar, porque merecemos uma vida saudável em todos os sentidos. É o mínimo que devemos ter.

Para visitar a página Eat Right, no site da Gaynor Minden, aqui.

18 comentários sobre “Eat Right. Respect Your Body. Dance Forever.

  1. Cássia, creio que ha algo quanto a este assunto que precisa ser corrigido o quanto antes.
    Infelizmente, é verdade que muitas adolescentes sofrem de transtornos alimentares por conta dessa ideia do corpo perfeito para o ballet.
    Mas agora, pensemos: voce realmente acredita que é possivel haver bailarinas profissionais com anorexia ou bulimia?
    Eu respondo.
    É impossível.
    E voce mesma justificou isso em seu post. Sejamos sinceras, quem consegue aguentar 8 horas de ensaios diários com somente uma maçã no estômago? Ninguém. Qualquer bailarina que tente fazer isso ficará tão exausta ao fim da primeira hora de ensaio que ou acaba demitida, ou acaba internada num hospital. Ou ambas.

    Sabe Cássia, na altura em que uma bailarina italiana (cujo nome ja não me recordo) fez aquele enorme escândalo quanto à suposta existencia de muitos casos de transtornos alimentares dentro do La Scalla, uma bailarina do Bolshoi (creio que foi a Zakharova) reagiu dizendo que no ballet profissional ocorre meio que uma seleção natural: as bailarinas inseguras com seu peso, isto é, as alunas bulímicas e anoréxicas, jamais conseguem chegar ao topo do ballet clássico. Justamente porque se trata de uma profissão hiper desgastante. Bailarinas profissionais passam seus dias ensaiando, viajando, suando, suportando dor extrema. Nenhuma anoréxica aguenta isso, aliás: tentemos nós próprias comer somente uma maçã e de seguida fazer meia hora de barra. Eu aposto que, pelo menos eu, desmaiaria logo nos developpés…

    Peço perdão pela observação, mas creio que ha um estereótipo muito grande e muito errôneo da prima bailarina anoréxica e obsecada com a magreza. Alunas, principiantes, adolescentes realmente sofrem muito com essa insegurança em relação ao próprio corpo, não duvidemos. Mas dentro das companhias, tenho a certeza que tais casos são raríssimos!

    1. Bianca, não apenas acredito que bailarinas profissionais podem sofrer transtornos alimentares, como já li entrevistas de bailarinas relatando os seus problemas, trechos de biografias e artigos científicos de pesquisas realizadas apenas com profissionais. Concordo com você, é difícil se manter durante oito horas apenas com uma maçã no estômago, mas isso acontece, mesmo que o rendimento caia. Uma professora minha até me explicou o que ela, que já sofreu com isso, fazia para se manter em uma companhia comendo tão pouco. Não podemos nos iludir, o problema existe e ele deve ser discutido, não minimizado. E por que o relato da Mariafrancesca Garritano é mentiroso e as palavras da Svetlana Zakharova são verdadeiras? Porque uma disse que o problema existe e a outra disse que não? Todo estereótipo é falho, e não deveria existir, mas estereótipos não afetam a saúde de ninguém. Os transtornos alimentares, sim. Enquanto esse problema existir, mesmo que atinja 1% dos profissionais, continuará sendo discutido e tendo tanta importância. Grande beijo.

  2. Eu acho isso bem complicado tenho 1.65 e peso o msm q voce 52 kg. Esses dias resolvi entrar numa escola de ballet a primeira coisa q meu namorado falou e que eu era gorda pra ser bailarina… Isso ja esta arraigado na cabeça das pessoas e muitas meninas se automuilam para conseguir o corpo esguio que nos e passado na televisao. Eu sou uma delas e é triste dizer isso mas tenho serios problemas alimentares e tenho ate medo de mim

    1. Aline, de onde o seu namorado tirou a ideia de que alguém com 1,65m e 52kg está gorda para ser bailarina? São comentários desse tipo que contribuem para o problema que você está passando. Primeiro, a relação entre seu peso e altura está ótima; e mesmo que você pese um pouco mais, continuará ótimo. É o nosso corpo que nos sustenta, se não comemos, falha o nosso corpo e falha o nosso cérebro. Quando tiver dúvidas a respeito, converse com nutricionista, médico, preparador físico, pesquise em sites sérios. Não deixe que essa visão tão deturpada prejudique você, tudo bem? Beijos.

  3. Cassia me socorre!!!!!! Sei que você já postou esse post há um tempinho mas fiquei um tempo sem cel nem pc, mas enfim o meu problema é esse: Eu tenho 12, 1,62 de altura e peso 52 kg, sim, sou meio gordinha, em relação ao corpo não apareçe muito mas na balança sim, e eu to parando de comer completamete exeto quando minha mãe percebe e me fala para almoçar (pq eu sou o tipo de pessoa que faz o que a mãe diz, não precisa nem brigar), e eu estou paranoica quanto ao meu peso por que eu vou fazer o teste pro Bolshoi e eu preciso passar!! Não aguento mais meus “amigos” aqui.
    Me ajuda por favor!! O que eu faço?

    1. Juliana, em primeiro lugar, você não está gordinha. O seu peso está ótimo em relação a sua altura. Não acredite quando disserem o contrário, tudo bem? Outra coisa, ao parar de comer, você está prejudicando o seu corpo que não responderá como deve. É a comida que nos mantém em pé, que faz nosso corpo funcionar… Já pensou seu corpo falhar no dia do teste? Ouça a sua mãe, tome café da manhã, almoce e jante, não precisa se empanturrar de comida, mas comer até se sentir saciada, se sentir disposta, para poder dançar bem e lindamente. Promete que vai comer? Quero te ver no Bolshoi ano que vem. =]

      Grande beijo.

  4. Olá, acompanho seu blog há um tempinho e resolvi comentar nesse post.
    Tenho 17 anos e nunca tive problemas com peso, pois sempre fui magra – exceto quando tive depressão e engordei, mas depois foi fácil voltar ao normal -. Sempre achei terrível esse transtornos e uma amiga minha quase chegou à anorexia, me deixando super preocupada e me fazendo pensar o que leva uma pessoa à isso. Agora, chegada a hora de decidir profissões e ter escolhido a dança (não o ballet, pretendo seguir danças em geral), passei a ficar muito preocupada com isso.
    Mesmo tendo 48kg para 1,55m, ao me comparar com algumas meninas de onde faço ballet, me sinto gordíssima. É mais fácil se deixar levar do que pensamos, é preciso estar atento a estes sinais e procurar sempre um médico para esses assuntos 🙂

  5. Isso é tão verdade. Principalmente quando você não tem “o corpo” pra ballet. Comecei ballet no ano retrasado, com 15 anos, e ano passado, quando mudei pra uma turma de meninas mais ou menos da minha idade,foi que eu vi o quanto eu era gorda em relação a elas.Sou uma pêra, tenho coxas e quadril enormes, e tenho comido muito menos do que eu deveria em um dia – mesmo que a minha professora não tenha falado que eu sou gorda. :S

  6. Que legal Cassia. Você é mesmo muito corajosa.Este é um dilema que persegue as bailarinas.Não tenho certeza,mas acho que esta associado ao medo que elas têm de não conseguir subir nas pontas.Só que todas nós(todas nós),porque os homens não usam pontas;sabemos que o que realmente importa é a técnica que você possui para se manter nas pontas.E esta técnica só é adquirida através de tempo.Qual o tempo?pela escola inglesa,cinco anos.Bom como sou formada por esta escola,e pela minha experiencia,este é um tempo bom para subir nas pontas sem causar a distrofia muscular nem a inflamação dos tendões.Assim voce já consegue controlar o seu centro de gravidade,sustentação de pernas e respiração.A quantidade que voce come não tem nada a ver com o fato.Aceitem-se como voces são.A técnica as ajudará no que for preciso.Agora perguntem: “E a expressividade”? esta é trabalhada de outro modo.Bailarina bulimica não sobrevive aos incansaveis exercícios fisicos de oito horas ou mais de ensaios e aulas.Isto em companhias de dança profissional.Quem não alimenta-se certo não adquire energia para sobreviver a tudo isto.

  7. Sempre adorei comer, e olha que faço ballet há 20 anos (jááááá!!).
    Nunca fui profissional, mas quando era criança, era um problema o bullying das colegas de sala…
    Tanto que, aos 12 anos, entrei em uma RA em que perdi 15 kg. E foi só a partir daí que adquiri confiança pra dançar e melhorei muito.
    Infelizmente não só a escola de ballet, mas os próprios bailarinos exigem de você um corpo perfeito. E isso que estou falando de escolas amadoras! Tenho primas que dançaram em escolas super conceituadas e eram ameaçadas de serem cortadas das apresentações quando engordavam 1kg!
    Hoje primo pela qualidade de vida e pelo bem-estar. Nunca dancei para ser profissional, danço porque gosto. E, se acho que tenho que perder algum peso, a iniciativa é minha, e vai ser no meu ritmo. Ai de quem ousar engrossar comigo….rsrsrs
    Beijinhos!

  8. Cássia, acho bastante curioso este tema. Mesmo antes de entrar no ballet, sempre tive uma relação muito peculiar com a comida. Talvez porque isso representa uma coisa muito privada e a qual só eu posso controlar – e eu sou uma control freak. Também já estive à beira de um distúrbio mas felizmente consegui contornar a tempo o problema. Sempre fui bastante magra – mesmo agora depois de ter tido o meu filhote peso 48kgs para 1,72 – e felizmente aprendi a comer de forma saudável (como poderás ver pelas minhas receitas no meu blog). Mas a verdade é que me peso 1 vez por semana e gosto de controlar.
    Julgo que o segredo é poder controlar o que como, saber que como coisas saudáveis e benéficas e com isso me sentir bem.
    Mas gostei muito deste teu texto 🙂

  9. Cássia, estou passando por isso agora! Tenho 16 anos e sempre quis fazer ballet, só comecei ano passado, justamente porque, quando eu era criança (beeeem gordinha), minha mãe dizia que eu não tinha “corpo” para ballet e que ia sofrer. Por causa disso, só comecei o ballet ano passado, por já ter uma certa “maturidade” com críticas. Esse ano mudei para uma escola mais famosa, fiz exame físico e me mandaram emagrecer 10 quilos!!!!! Eu sabia que estava acima do peso, mas não tanto! Fiquei bastante chateada com isso, e, apesar de a professora não colocar muita pressão, estou em um regime “brabo”. Já se foram 2 quilos e espero sim chegar aos -10. Estou emagrecendo com saúde, mas me sinto pressionada, estou sempre pensando nas calorias do que vou comer. Você tocou no assunto na hora certa!

    1. Isabela, o fato de “mandarem” você emagrecer 10 quilos não significa que você esteja acima do peso. O padrão exigido no ballet está muito abaixo do considerado normal na média da população. Mas você faz o curso regular? Você é treinada para ser profissional? Caso não seja, é um absurdo mandarem você emagrecer.

    2. Pois é Cássia, e olha que minha escola de ballet não é a mais “tradicional” da cidade. Nessa outra escola mais tradicional, bailarinas gordinhas (inclusive crianças) realmente não são aceitas e, se alguma bailarina engorda, é totalmente controlada e pressionada pelas professoras. Meu curso não é o regular, mas, ainda assim, exigem bastante. A professora não faz pressão para emagrecer, mas eu tenho o corpo brasileiro (perna grossa e bumbum rs), beeeem diferente das minhas colegas de aula, então me sinto um pouco “excluída”. Acho que é por isso que me mandaram emagrecer, para padronizar as medidas… Mas juro que estou emagrecendo com saúde, e bem longe de qualquer distúrbio alimentar! Já perdi 3,1 quilos e estou me sentindo ótima! 😀

    3. Isabela, me desculpa. Mas o seu curso não é regular, você não está sendo treinada para ser bailarina e mandarem você emagrecer é um completo absurdo! As pessoas não são iguais, os corpos não são iguais, não podem padronizar as medidas. Mesmo que você esteja emagrecendo de maneira saudável, essa escola é que não é saudável. Acho isso vergonhoso, de verdade.

  10. que tema complicado hein querida? Eu me alimento bem, mas mudei coimpletamente meus hábitos por conta do ballet… por exemplo, mcdonalds é algo que não existe mais em minha vida. As vezes me pego pensando que tenho vontade, ai falo para mim mesma que basta um para tudo dar errado… Isso é um exemplo do que passa na minha cabeça. Não tenho transtorno alimentar, graças a Deus, mas há pessoas que ficam preocupadas comigo. É uma relação de amor e ódio – tem dias que amo ser assim, tem dias que odeio…. Mas obrigada por trazer o tema para nossa discussão e meditação… Bjus! saudades de nossas conversas;

  11. Post interessantíssimo! Não vivo do ballet mas danço num grupo evangélico, nunca me cobrei magreza, nem as bailarinas do grupo, pelo contrário comemos bem, acredito que não sobreviveríamos com essa ditadura, pois estudamos muito, trabalhamos, ensaiamos, praticamos e alongamos e tudo mais. E o rendimento é maravilhoso!

  12. Cássia, estou no seu time. Tenho uma relação íntima com a comida, adoro comer, e nos últimos dias (quando apareci nas aulas de ballet) ouvi a reclamação da minha professora, ela tem me dito toda aula “Ana, você está muito magra”. Acho essa situação inusitada, um professor de ballet dizer à aluna que ela está muito magra, ao mesmo tempo sinto uma espécie de orgulho por ter aula com quem se preocupa com a saúde de seus alunos. Acontece que eu emagreci mesmo, mas graças a uma mudança de hábitos alimentares seguindo as instruções do meu médico nefrologista, com quem faço acompanhamento devido a um distúrbio renal.
    Acho esse assunto de uma relevância imensa, vou ler tudo que você postar sobre o assunto.

    Até mais.

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