Os quatros elementos

Não importa há quanto tempo nós dançamos, é raro não termos no nosso imaginário um perfil da bailarina ou bailarino que queremos ser.

Acho bacana reconhecermos esse perfil. Como queremos ser? Quais elementos são mais importantes para nós? Ninguém consegue ser tudo. Se a gente pegar os bailarinos profissionais, veremos que são artistas bem diferentes uns dos outros. De tanto analisá-los, comecei a perceber o que é mais interessante para mim.

Assim, defini os quatro elementos que me compõe como bailarina, aqueles que são o meu foco constante no meu estudo.

Leveza
Não confundam com leveza física, falo da leveza do movimento. Saltar sem esforço, por exemplo, especialmente nos pequenos saltos. O meu maior medo é parecer um elefantinho pulando e não uma pulga saltando. Para isso, muito plié, relevé, pequenos saltos e baterias.

Fluidez dos movimentos
Algo que me incomoda bastante é quando a bailarina pensa no passo seguinte. Parece que vemos uma pausa, um movimento, outra pausa, mais um movimento. Gosto quando um termina, o outro começa e sequer notamos, eles vão se ligando ao longo da coreografia. Talvez, a fluidez exista quando o movimento já faz parte do nosso corpo a ponto de não precisarmos pensar em como fazê-lo, a gente simplesmente o faz. Como conseguir isso? Muito treino e repetição nessa vida.

Limpeza técnica
Meu lema é: antes uma pirueta limpa do que duas malfeitas. Sem limpeza técnica não existe dança de qualidade. Para isso, é preciso buscar o passo na sua essência, entender como ele é feito e como funciona. Talvez por isso eu goste tanto de estudar técnica clássica. E não falo de perfeição, hein?! Mas de fazer bem-feito. Outra coisa importante: não podemos confundir com hiperextensão. Attitude derrière e arabesque a 90 graus são sinônimos de movimentos limpos, por exemplo. Um movimento muito amplo, às vezes, é sujeira na certa. A menos que você seja a Sylvie Guillem, claro.

Musicalidade
Erre o passo, mas não erre o tempo da música! Talvez seja esse o ponto que menos trabalhamos, mesmo sendo um dos mais importantes. A música na dança tem uma razão de ser. Sim, sei que existe dança contemporânea sem música, mas… Meu corpo não entende isso. Vejo a dança como extensão da música; para mim, elas funcionam juntas. Um exercício que faço é ouvir muita música e imaginar os passos enquanto ouço. Não importa se conheço a coreografia, o exercício consiste em coordenar música e movimento. Depois, é passar da imaginação para a ação.

Querem ver tudo isso reunido? Escolhi o entrance de Aurora, de A Bela Adormecida, com a Alina Cojocaru. Prestem atenção: ela parece uma pluma de tão leve (os pas de chat do começo), os movimentos fluem do seu corpo, os passos são bem-feitos e os movimentos pontuam a música (a sequência de pas de chat e attitude devant, por exemplo).

Esses são os meus elementos, aqueles que busco com afinco. Há quem goste da força física, da expressividade em cena, da explosão do movimento, da perfeição do passo. Não importa, cada qual se reconhece em vários deles e, assim, se molda como artista. Quais são os elementos de vocês?

3 comentários sobre “Os quatros elementos

  1. Cassia concordo muito com os elementos q escolheu, e com muitas outras coisas que você posta no blog. Estou fazendo meu TCC e gostaria de usar uma citação tua referente a este assunto.

    “Esses são os meus elementos, aqueles que busco com afinco. Há quem goste da força física, da expressividade em cena, da explosão do movimento, da perfeição do passo. Não importa, cada qual se reconhece em vários deles e, assim, se molda como artista”

    Ok?!

    Bjoos

  2. Creio que durante as aulas de ballet, o que mais chama a minha atenção é a leveza e fluidez de movimentos, além do alongamento macio. Particularmente, tenho um alongamento péssimo (apesar de treinar kickboxing há 2 anos) e o encaixe do quadril não facilita nem um pouco na hora de alongar, hahaha. Então, quando assisto aos espetáculos, fico encantada com as pernas altas e a leveza das solistas.

  3. olá Cássia, gostei desse assunto, de pensar nos pontos que devemos trabalhar no ballet para conseguir qualidade na dança, para mim por exemplo, gosto muito de pensar na limpeza técnica aliada a fluidez do movimento, tento pensar isso ao mesmo tempo quando estou na aula, em seguida penso na expressão que o movimento pode ter junto com a música, pois um mesmo movimento pode ter uma intenção, uma fluidez diferente em músicas diferentes. A respeito da música, vi que você disse que a dança é uma extensão da música, penso que poderia ser a música e a dança se completam, uma auxilia a outra. Abraços.

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